Por que é mais fácil pagar um empréstimo do que pagar a si mesmo?
- Laureane Dehe
- 5 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Ao longo dos meus anos de experiência, ouvi inúmeras vezes clientes me dizerem na sessão inicial que era muito mais fácil pagar seus empréstimos e financiamentos do que fazer um investimento. Mas por que isso acontece?
Muitos clientes se encontravam presos em ciclos de dívidas, pagando seus empréstimos em dia graças à conveniência de terem os pagamentos descontados diretamente do salário, por débito automático ou através de boletos com datas definidas.
Outros clientes afirmavam que, por não saberem onde investir e temendo que o dinheiro disponível na conta fosse gasto impulsivamente, preferiam se comprometer com financiamentos de imóveis com taxas altas, acreditando assim que estavam fazendo um investimento seguro.
Essa tendência pode ser explicada através de princípios da psicologia econômica e outros fatores como:
Aversão à Perda: Um conceito central na psicologia econômica é a aversão à perda, que se refere à tendência de preferir evitar perdas a adquirir ganhos equivalentes. Em outras palavras, perder R$100 é mais doloroso do que ganhar R$100 é prazeroso. Essa aversão pode explicar por que preferimos pagar dívidas (evitar perdas) a investir em nós mesmos (potencialmente ganhar).
Gratificação Instantânea vs. Gratificação Diferida: Outro aspecto importante é a luta entre a gratificação instantânea e a diferida. Empréstimos e dívidas, muitas vezes, proporcionam uma gratificação imediata – conseguimos algo agora e pagamos depois. Em contraste, investimentos e economias exigem gratificação diferida, o que pode ser menos atraente para muitos.
Falta de Educação Financeira: A educação financeira desempenha um papel crucial. Muitas pessoas não sabem como ou onde investir, o que gera medo e incerteza. Pagar um empréstimo é um processo simples e direto, enquanto investir requer conhecimento e confiança.
A Comodidade de Pagar Empréstimos: Pagar um empréstimo oferece uma estrutura clara: há um valor devido, um prazo para pagamento e consequências conhecidas para o não cumprimento. Esse processo previsível pode proporcionar uma sensação de segurança e controle, o que é psicologicamente reconfortante.
Obrigação e Disciplina: Quando temos um empréstimo, somos obrigados a pagar em dia para evitar juros e penalidades. Essa obrigação cria disciplina financeira que muitas vezes falta quando se trata de investir em nós mesmos.
Credibilidade e Recompensas: Pagar dívidas regularmente pode melhorar nosso crédito e nos tornar elegíveis para futuros empréstimos com melhores condições. Esta é uma recompensa tangível que muitos preferem perseguir.

Por Que É Difícil Investir em Si Mesmo?
Investir em si mesmo, seja por meio de educação, saúde, ou investimentos financeiros, requer um tipo diferente de mentalidade e abordagem.
Diferentemente dos empréstimos, os benefícios de investir em si mesmo nem sempre são imediatos. Cursos de aprimoramento profissional, por exemplo, podem levar anos para se traduzirem em aumento de salário.
Investir em ações, cursos ou até mesmo em uma mudança de carreira pode parecer arriscado. A incerteza e o medo de perder dinheiro ou tempo desencorajam muitos.
Muitas pessoas subestimam seu próprio valor e, portanto, relutam em investir em si mesmas. Isso pode ser devido a uma falta de autoconfiança ou à crença de que não são dignas desse investimento.
Como Superar essas Barreiras?
Para mudar essa mentalidade e começar a investir em si mesmo, é necessário trabalhar tanto nas habilidades financeiras quanto no autoconhecimento e na autoconfiança.
Educação Financeira: Investir em educação financeira é o primeiro passo. Conhecer diferentes tipos de investimentos, entender como o mercado funciona e aprender sobre gestão de riscos são fundamentais para tomar decisões informadas.
Planejamento e Metas: Definir metas claras e realistas pode transformar a visão de longo prazo em algo mais tangível. Metas bem definidas ajudam a manter o foco e a disciplina.
Mindfulness e Atenção Plena: Práticas de mindfulness podem ajudar a aumentar a consciência sobre os hábitos financeiros e as emoções associadas a eles. Estar mais presente e consciente das decisões financeiras pode ajudar a reduzir a impulsividade e a aumentar a disciplina.
Colocar Investimentos em Automático: Existem vários investimentos que você pode colocar em débito automático ou programar compras frequentes.
Autoavaliação e Autoconfiança: Trabalhar na autoconfiança e no valor próprio é crucial. Reconhecer suas próprias habilidades e potencial pode motivar a investir em si mesmo.
A relação entre nossas emoções e decisões financeiras é complexa e profundamente enraizada. A psicologia econômica nos fornece as ferramentas para entender melhor por que muitas vezes preferimos pagar dívidas a investir em nós mesmos. Reconhecer essas tendências e trabalhar para superá-las pode levar a uma vida financeira mais equilibrada e satisfatória.
Investir em si mesmo é um ato de autovalorização e confiança no próprio potencial. Com educação financeira, planejamento, e uma mudança na mentalidade, podemos transformar nossa abordagem financeira e alcançar uma maior prosperidade. Ao invés de apenas reagir às demandas financeiras, podemos começar a agir de forma proativa, moldando um futuro mais seguro e recompensador.
Lembre-se, você é o seu maior ativo, e investir em si mesmo é o passo mais importante para construir uma vida financeira equilibrada e próspera.
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